quarta-feira, 11 de março de 2009

Política, Politicagem e Arte

A situação está complicada e “confiança” é uma palavra difícil de ser inserida no atual contexto, ainda mais se seguida da palavra “plena”. Todo mundo quer acreditar e apostar, todos gostam e precisam, mas ninguém quer dar o primeiro passo.

Nesse cenário, fazer cinema neste país não é fácil, ou melhor, escolher qualquer arte como profissão é um desafio. Falta de tudo..., principalmente apoio e investimentos. Nos últimos anos o cinema nacional tem se destacado nos festivais pelo mundo, com muito esforço e coragem. Pessoas ousadas que enfrentam as mais diversas dificuldades em prol do sonho, arriscam e fazem acontecer. O difícil para os brasileiros é pagar a conta!

Trago este assunto hoje, para refletirmos sobre essa grande produção cinematográfica nacional, que está em curso, sob a direção de Fábio Barreto - “Lula, o Filho do Brasil”, baseado na obra de Denise Paraná, que expõe um período da vida do atual presidente, 1945 a 1980, sob a ótica de sua mãe, Dona Lindu. O sofrimento de uma retirante em criar seus sete filhos.

Certamente o filme será belo, recheado de cenas fortes e emocionantes, como foi até então a vida de Lula. A miséria da infância, as dificuldades da criação, a superação e o sucesso (e agora a decadência?). Um clichê comum, como de tantos outros personagens do Brasil e do mundo.

O que está chamando a atenção particularmente nesta produção, que será lançada no início de 2010 são dois fatores: o grande orçamento, maior do país em produções deste tipo, custeado integralmente pela iniciativa privada, e o fato do lançamento do filme ocorrer justamente em um ano eleitoral. Pelo que li, tem muita gente feliz com a iniciativa, desde os produtores, os financiadores e o próprio presidente Lula, que aprovou o roteiro após conhecer algumas passagens, dizendo confiar plenamente nos cineastas.

16 milhões de reais é o valor inicialmente orçado e praticamente já captado junto à iniciativa privada. Empresas como Carmargo Corrêa, OAS e Odebrecht, do ramo da construção, GDF Suez e EBX, de energia, Oi, de telefonia, Ambev e Nestlé, de alimentos e Embraer, já confirmaram seus patrocínios. Nega-se veementemente que exista qualquer interesse dessas empresas em algum favorecimento do presidente. Trata-se simplesmente de uma oportunidade comercial e amor à arte.

Ao olharmos pelos financiadores, todos mantém uma interferência grande do governo em seus orçamentos, seja pela liberação de obras e investimentos, ou pelo controle das agências de regulação. Nos transparece um grande jogo, com players de peso.

Outro fato que chama a atenção é de que nenhuma das empresas fará uso das leis de incentivo vigentes, que as permitiriam abater os investimentos dos seus custos operacionais, economizando no pagamento de impostos. Fascinante! ... uma nova engenharia de financiamento, difícil de se entender, aos olhos de um cidadão comum.

Para se ter idéia, o filme que contou a vida dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano captou 13,5 milhões, sendo que 40% deste valor foi compensado pelas empresas financiadoras com as leis de incentivo fiscal. Era o maior orçamento para o cinema nacional, até então.

O segundo ponto que incomoda é o fato do mesmo ser lançado em ano eleitoral. Cena perfeita nesta reta final de disputas eleitorais: libera-se cada vez mais incentivos aos “pobres” através dos diversos programas de governo, o que já vem ocorrendo, e insere-se um forte componente emocional. Combinação perfeita para quem quer perpetuar-se.

Vejo a cena de “Lula, o Filho do Brasil”, em exibição pública nas praças das cidadezinhas pobres, em empresas públicas e sendo distribuído como um souvenir, já que nos cinemas pagos, cuja grande maioria de espectadores não tem acesso, não deva ter muita aceitação. Ah.. e é claro, amplamente divulgado pela mídia...

Voltando à confiança, eu acredito plenamente no trabalho da família Barreto de cineastas, pelo histórico e sensibilidade, e pelas diversas produções realizadas, porém não compro essa idéia, a menos que me seja provado o contrário. Talvez nem tenham culpa disso tudo e nem queiram saber disso, mas eu não darei um primeiro passo a favor dessa iniciativa, e por hora prefiro contrariar, contrariado.

2 comentários:

Juliana Machado disse...

Pois é. Como a Globo provavelmente não lançaria uma novela da qual a grande estrela remetesse a um candidato, como fez com Andréia Vargas vivida pela Regina Duarte quando a emissora ainda apoiava a candidatura de Roseana Sarney, ou quando exibiu a minissério JK, que ajudou banstente o Aécio (novo, mineiro, sonhador, etc) a vencer as eleições de MG, cabe valer-se da telona para impressionar a massa.

Não duvido que vá haver "bolsa cinema", para possibilitar que os companheiros possam levar toda a família para ver a vida do menino pobre que chegou lá...

Armando disse...

Realmente a observação da Juliana é pertinente, tanto fato da influência da grande mídia na alavancagem eleitoral, quanto os artifícios para "comprar" eleitores.
Obrigado pelo comentário!!