quinta-feira, 12 de março de 2009

Plasticidade


Ao longo da história, os seres humanos têm sido colocados à prova e exigidos em diversos aspectos, como força física, vontade e determinação, inteligência e agora plasticidade, como condições básicas para a própria sobrevivência.

Ter que encarar as feras, lutar contra os inimigos, matar ou morrer, querer e conquistar algo realmente significativo para si e para os próximos, sempre guiaram o desenvolvimento humano pelas centenas de anos de existência.

Hoje trazemos conosco, enraizado, todo esse passado que, agregado ao ambiente em que vivemos, de alguma forma contribui para a formação da nossa personalidade e nos guia nas nossas ações, pontos de vistas e sonhos. Como querer suprimir de um povo a característica da guerra, se desde os primórdios da sua existência sempre esteve inserido naquele contexto, indispensável para a sua própria sobrevivência? Como querer ocidentalizar pessoas que carregam aspectos culturais milenares? Como querer que alguém que sempre foi diferente, seja igual ao outro?

Dessa forma surgem os clãs, as tribos, os grupos e até as amizades, partindo de características semelhantes e interesses comuns. Os punks, os mauricinhos, os yuppies, a turma do bairro, os notáveis do Colarinho, os emos e tantos outros... Cada qual com as suas verdades, rivalidades, diversidades e crenças, manisfetadas para o bem ou para mal.

Nos semelhantes encontramos uma acolhida, um reflexo de nós mesmos, dos nossos anseios e de nossos sonhos. Mantemos-nos seguros em uma zona de conforto, sem termos que nos arriscar, nos defender ou atacar. Aquele que não participa dos mesmos princípios, das mesmas crenças e dos mesmos valores não pode pertencer ao meu mundo.

Assim, limitamos o nosso crescimento, por deixarmos de compartilhar histórias, culturas, pensamentos e sentimentos. Estimulamos os confrontos ao não sabermos lidar com os conflitos, sempre que queremos ser melhores que os outros. Não respeitamos a diversidade e os limites. Pregamos um mundo sem fronteiras, mas não nos libertamos dos nossos próprios preconceitos. Internalizamos a paz como uma solução contra as guerras e a dor e não pelo reconhecimento, pelo respeito e pela harmonia comum.

Brasileiros espancados na Inglaterra, pessoas torturadas, homossexuais assassinados, cidadãos excomungados, minorias exterminadas...

Nos dias atuais, falamos na importância da plasticidade ao ser humano, como capacidade e flexibilidade para a adaptação, que devemos ter para convivermos em um mundo global, com tantos desafios a serem enfrentados conjuntamente. Refletimos sobre a necessidade da boa convivência como fator fundamental para a nossa felicidade e sobrevivência, mas temos medo por nossos filhos e netos.

Achamos-nos plenamente capazes e indispensáveis, mas na maioria das vezes nos sentimos inúteis. Estamos tão perto e tão distantes, tão confiantes e em dúvida, tão seguros e perdidos. Estamos evoluídos e atrasados, plenos e vazios.

Manifestamos as nossas opiniões e os nossos desejos ao léu e aguardamos solitários e ansiosos que os bons ventos nos tragam boas notícias.

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