quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Tu és responsável...



“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...”

Antoine de Saint Exupéry

Atiramos ao léu as nossas conquistas e as nossas relações, sempre que abrimos mão do cuiidar. Deixamos as coisas seguirem e até ignoramos aquele que tanto nos quer e nos faz bem. Comportamos-nos tais quais irresponsáveis extrativistas, ao sugarmos arbitrariamente o sulco que tanto necessitamos, e que nos alimenta a alma. Deixamos..., enganamos ao outro e a nós próprios, e assim matamos aos poucos a relação e a razão da nossa própria existência.

Seguimos com nossas vidas obtusas, deixando para trás um infinito mar de decepções, que as outras pessoas carregam por nós. A mágoa incessante, alimentada pelos espinhos incrustados na vã existência, em um mar de lágrimas e sofrimentos. Os enganos, expansão das ilusões e dos sonhos despetalados. Os ressentimentos e as marcas deixadas no âmago das nossas vidas, e nas reflexões, a turbulência incessante do desgosto. Maltratamos a rosa, menosprezamos o amor e silenciamos as borboletas.

Ódio é pouco, mas não é o ódio. Raiva é pouco, mas também não é a raiva. A decepção sim, pela escolha em nos entregarmos de corpo e alma à luz, e ao nos sentirmos acolhidos, um mergulho frio na escuridão voraz do abandono. Doce ilusão, cristais despedaçados, tempestade de culpas.

Resiliência!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Que amor é esse!

ao deixar-me
cruelmente
subtraiu-me a alegria
descoloriu minha vida
implodiu meus sentimentos
envenenou minha alma

terça-feira, 27 de outubro de 2009

As amizades e o tempo!

Quando crianças nos ensinaram piamente sobre a cronologia, sobre as nossas responsabilidades e o cumprimento das nossas obrigações. Sobre como sermos cidadãos decentes e o nosso papel na sociedade. Sobre como exigirmos os nossos direitos, e cumprirmos os nossos deveres, para uma cidadania plena. Ensinaram-nos também, que a família, a escola e a religião são instituições fundamentais para a formação do nosso caráter.

Sem que nos ensinassem, aprendemos que a convivência com outras pessoas é uma tarefa difícil, na medida em que dividir, compartilhar e aceitar o outro é uma decisão de cada um, e entre as broncas dos pais, dos professores ou dos clérigos, pelo nosso egoísmo nato, nos sentimos acuados, confusos e aprendemos que sempre que os interesses forem convergentes, o caminho se torna mais ameno, fácil e divertido, se bem acompanhado.

Assim, aprendemos a confiar no outro, e de alguma forma, inicialmente, nos tornamos dependentes por pleno interesse, cujos vínculos se transformam, quando bem cuidados, em afetivos. O tempo cronológico não tem muito a ver com este tipo de transformação, a qual acontece quando os corações se encontram próximos, e respira-se o outro. Respeita-se o outro. Admira-se o outro.

Experimentei no último sábado, compartilhar minhas alegrias com amigos de mais de 35 anos de convivência, amigos de mais de 20 e 10 anos, amigos recentes, todos plenos na minha caminhada. Em cada olhar e em cada abraço, um sentimento puro de bem estar, de amor e de felicidade, simplesmente por tê-los próximos, e uma saudade imensa daqueles que por algum motivo ali não estavam.

Indelével o sentimento mútuo que permeia as pessoas que se querem bem, e que ultrapassaram as razões das conveniências. Admirável o sentimento puro que perpetua a vida das pessoas que escolheram seguir juntas, e que continuam as suas jornadas lado a lado. Louvável o sentimento das pessoas que cultivam as amizades, e que se doam ao outro, nos simples gestos, na magnificência da alma.

Finalizo esta postagem com uma carga imensa de emoção, seja pela imperdoável perda ou distanciamento de algumas pessoas com as quais deveria caminhar junto, e pelo agradecimento às amizades construídas e consolidadas ao longo da minha natividade.

Um brinde ao outro!

Namastê!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

As mulheres no futuro!

Cada um vive ao seu tempo, considerando o seu ambiente e tudo aquilo que lhe foi proporcionado para as suas escolhas. Nosso modo de vida, da infância à velhice, nós escolhemos, de acordo com os insights que recebemos e com as nossas preferências - somos os responsáveis por elas. O futuro encanta, ao mesmo tempo em que muito nos preocupa, pois queremos sempre o melhor para nós e para quem queremos bem. Ao menos a maioria das pessoas.

Essa loucura pela beleza a qualquer preço, pelo rejuvenescimento; essa luta pela juventude eterna, como um troféu que abre as portas para a sociedade é uma hipocrisia, traz uma devoção fingida. Cuidar-se, sim, óbvio, mas a obsessão pela beleza é doentia, uma deformação não só do corpo, mas também da mente.

Li na folha online, um artigo que fala sobre o futuro das mulheres, e tenho a certeza de que algumas estarão muito felizes com a notícia, por viverem o hoje. Outras nem tanto. Outras nem se importarão. O fato é que, segundo as pesquisas de Stephen Stearns, biólogo evolucionista da Universidade de Yale, “as mulheres do futuro serão levemente mais baixas e rechonchudas, terão corações saudáveis e um tempo reprodutivo mais extenso”.

Ainda, o grupo de pesquisadores atesta que: “a mulher média em 2409 será 2 cm mais baixa e 1 kg mais pesada do que ela é atualmente. Ela dará à luz ao seu primeiro filho cinco meses mais cedo e entrará na menopausa dez meses mais tarde, em relação à média atual”. Não entendi a relevância desse estudo, mas certamente há, pois do contrário não se aplicariam infindáveis recursos e nem seria conduzido em uma universidade referência.

A ciência é fascinante, instigante, intrigante, e muitas vezes curiosa. Interessa-nos sempre que o assunto tem um significado próximo, ou íntimo, com a nossa realidade. Passa ao largo quando não nos afeta, ou quando não percebemos a sua importância em nossas vidas. Ciência é vida, ditado assertivo, apesar dos contraditórios.

Para quem quiser ler a matéria completa, vai aí o link: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u640507.shtml

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O querer de cada um...

Há alguns dias atrás estava conversando com um casal de amigos, enquanto tomávamos alguns drinks lá no Jockers, que particularmente considero o melhor pub de Curitiba. Falávamos sobre pessoas, sobre relacionamentos e sobre as nossas escolhas, que nos trazem alegrias e que nos fazem sofrer.

No centro do diálogo, o querer de cada um: estar, admirar, estimular, amar, escolher, viver... O ceder, abrir mão, esforçar-se, sacrificar-se, tudo pelo querer. O mergulhar em um novo universo, construindo a dois um futuro muitas vezes incerto. O deixar levar-se, com as boas intenções e os frutos de um amor intenso. O levar, colocando purpurina nos vazios da relação. À margem, mergulhamos na imaturidade, nas atitudes descabidas, no ressentimento e na mágoa. Uma conversa estimulante, com grande carga de emoções.

O que mais me instigou em nosso bate-papo, e que ainda tem me provocado reflexões intensas, foi a afirmação de que “às vezes empoderamos demais o outro, e pagamos um preço alto por isso”. Gostei muito, pois realmente os excessos que cometemos em favor da outra pessoa, nos tornam mais dependentes dela, seja pela admiração, paixão ou amor. Não acreditamos que as relações possam chegar ao fim e ficamos reféns de uma incerteza, e vítimas das nossas próprias escolhas. Adorei...

É bom falar sobre relacionamentos, ainda mais quando buscamos incessantemente a felicidade, e felicidade tem tudo a ver com estar com a pessoa que você ama. A pessoa com quem você escolheu estar. Algumas pessoas dizem serem felizes sozinhas, mas isso não passa de desculpas, para justificar a incapacidade de viver o outro e com o outro. Escondem-se, enganam, vivem e morrem amarguradas, nos seus pseudos mundos perfeitos e cruéis... Desacreditam e praguejam, invejam. Nas suas frustrações, sonham com dias melhores, os quais virão somente com as suas próprias transformações.

Acho que é isso, e agradeço aos amigos pela vivência...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Vamos embora que esperar não é saber...

A maioria das pessoas já ouviu, ou conheceu o seguinte desabafo: “Pra vocês que continuam pensando que me apóiam vaiando... A vida não se resume em festivais...”. No ano de 1968, no 3º Festival Internacional da Canção, promovido pela Rede Globo, diante de um Maracanãzinho lotado – falava-se em mais de 30 mil pessoas, a música “Pra não dizer que não falei das flores” ou “Caminhando”, como também era denominada, de Geraldo Vandré, foi derrotada por “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque. A multidão, enfurecida, demonstrando insatisfação com a escolha do júri, passou a vaiar incessantemente a decisão, e somente transformaram o manifesto em palmas acaloradas e gritos histéricos, após essa intervenção de Geraldo.

Geraldo Pedrosa de Araujo Dias nasceu em 12 de setembro de 1935, na cidade de João Pessoa/PB. Seu nome artístico teve origem na fragmentação do nome de seu pai, José Vandregísilo. Sua mãe chamava-se Maria Eugênia. Formou-se em direto em 1961 e militou junto aos movimentos estudantis contra a ditadura militar. Em 1969, após ter suas músicas censuradas e a cabeça colocada à prêmio, escondeu-se por um período em uma fazenda da esposa de Guimarães Rosa, então falecido, e exilou-se no Chile e depois na França, retornando ao Brasil em 1973. Após o retorno do exílio, nunca mais pisou em palcos brasileiros e cumpriu a promessa que fizera durante o exílio. Na profunda depressão encontra-se explicações para sua decisão, apesar de continuar compondo mergulhado na genialidade e na beleza infinita da sua poesia. Músicas como “Disparada”, “Samba em Prelúdio”, “Quem Quiser Encontrar Amor”, “Canção Nordestina”, entre tantas outras, levam a sua autoria.

Decidi trazer estes esclarecimentos, por ter visto fotos do Vandré (a primeira é de 1968, nos festivais, e a outra de 2005, aos 70 anos de idade) no blog do Zé Beto (Jornale), as quais inseri nesta postagem, o que estimulou em mim boas lembranças da época em que eu tocava nos bares da cidade de Curitiba, e mantinha Geraldo Vandré em meu repertório.

No link http://letras.terra.com.br/geraldo-vandre/46168/, você encontra a letra maravilhosa de “Pra não dizer que não falei das flores”.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Mesóclises!

nunca colocarei pronomes átonos
entre o radical e a desinência
seja em que tempo for
para puni-la ou perdoá-la

não julgá-la-ei
pois condená-la-ia

não perdoá-la-ei
pois consenti-la-ia

melhor esquecê-la
pois jamais conseguiria remediar
minha dor e o meu sofrimento
nas simples mesóclises

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Esse meu coração!


Meu coração não se acalma
Nem mesmo quando eu consinto
Faz de conta que é autônomo
Impõe-me um labirinto



Meu coração esquisito
Faz sempre que não dá conta
De tudo aquilo que sinto
Quando eu insisto me afronta

Meu coração traiçoeiro
Dissimula meus argumentos
Toda vez se faz de tonto
Destroça meus sentimentos

Meu coração desordeiro
Bagunçou a minha vida
Faz-se coitado, indolente
Sangrando minha ferida

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Encerrando Ciclos!

Impressiona-me o fato de estarmos sempre nos prendendo ao passado, querendo que as boas experiências vividas retornem, talvez com uma nova roupagem, mas que tenham igual significado e nos reproduzam aquelas boas emoções. Assim, não nos libertamos... Vivemos presos àquele amor antigo e intenso e queremos que os novos amores sejam iguais, ou com pequenas modificações, para melhor, claro! Estabelecemos um referencial com a empresa ou o trabalho passado, e ficamos em uma zona de conforto, torcendo para que tudo se mantenha no mesmo formato, para que não tenhamos que nos expor. Mantemos nossa casa idêntica, há tempos, pois gostamos de como está e assim sabemos o local das coisas, e não temos que nos preocupar em exercitarmos nossa criatividade, e em inovar. Vamos vivendo, deixando a vida passar...

Esse ser humano expansível, genial, magnífico, estabeleceu para si próprio os seus limites, escolheu o tamanho da sua caixinha e lá permanece..., escondeu-se. Ao longo do tempo deixou de acreditar nas suas potencialidades e parou. Sempre acha que já fez demais e que carrega consigo um ativo imenso. Trata o tempo quase como seu inimigo, como um limitador das suas novas possibilidades, ações e experiências.

Fernando Pessoa retrata bem este tema, em seu texto “Fechando Ciclos” (http://www.pensador.info/p/fernando_pessoa_encerrando_ciclos/1/), e evidencia que encerrar etapas em nossa vida nos abre para novas oportunidades, para seguirmos adiante, com maestria. Acho o texto genial, e caso estejamos dispostos a refletir sobre aqueles pontos que nos fazem sentido...

Ao finalizar, reafirmo que cada um é dono do seu destino, e que as etapas que passamos em nossas vidas, as experiências profissionais, as amizades e os amores conquistados, correspondidos ou não, os vínculos afetivos, os ganhos e as perdas, nos elevam a construir uma relação significativa nossa, com nós mesmos, e com os outros. Que as escolhas que fazemos, se desapegamos, trazemos conosco ou não, esse emaranhado de sentimentos, fruto das nossas vivências, serão determinantes para induzir a nossa felicidade, por toda a nossa vida.

Namastê!

domingo, 4 de outubro de 2009

Que amor é esse!

alcei-a dona do meu coração
e entreguei-lhe os segredos da minha felicidade
ela trancafiou os meus sentimentos e me anulou
inconseqüente e cruel

fechou a porta e jogou as chaves fora

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A morte é a vida!

Um breve olhar para o retrato em sua mesa de cabeceira, e o resgate de uma vida repleta de momentos felizes. Desde que ela se fora, os dias não eram iguais, e a intensa saudade, mística melancolia, nunca mais desabitou aquele imenso coração. A morte traz um significado profundo para a vida das pessoas, um questionamento íntimo sobre as escolhas passadas, sobre as realizações, as alegrias e frustrações. Traz um impulso para o futuro, que se projeta e se deseja para si. Retroalimenta e faz renascer.

Teve que aceitar a perda, e conviver consigo, pois apesar dos nebulosos dias, do incessante sofrimento, ainda tinha muito a fazer, não somente para si mesmo, mas também pelos outros. Outros, que ainda esperavam dele algum tipo de reação, que retomasse o sentido dos seus sonhos e o rumo das suas inquietudes, que retornasse ao seu próprio eixo e voltasse a inspirar tantas pessoas a expandirem as suas emoções. Um egoísmo se faz necessário diante da morte. Pensar em si e esquecer por um momento os outros. Fortalecer-se, mesmo que os outros se enfraqueçam pela sua ausência. Resgatar-se, mesmo que após, tenha que tecer a colcha da vida com retalhos. Inundar-se de sentimentos, para depois acontecer, diante das escolhas.

Por mais que a ferida ainda sangrasse, e a dor intensa o sufocasse, lhe remetendo ao mais hostil desagravo, decidiu seguir em frente. Enxugou as lágrimas e desapegou-se gradativamente das lembranças. Esforçou-se em apagar os sonhos, que insistiam em não deixar esquecê-la. Tentou confortar-se e recolheu-se. Inspirou-se nas suas próprias capacidades e nas letras reencontrou-se para a vida. Seguiu em frente. Não existe desamor sem dor, e a dor do desamor, assim como o próprio amor, caminha no fio da navalha, no limiar das emoções. Sangrar é a conseqüência de doar-se, de ser intenso. E isso, mesmo que inconseqüentemente, ele sempre foi.

A morte é a cessação da vida, mas também a ausência, uma dor violenta, a imobilidade ou a ruína. Uma privação intensa, uma perda, de alguém, de algo, ou de si mesmo. Em sua antítese, uma transição e um desabrochar. Um reencontro com a própria vida.