terça-feira, 14 de julho de 2009

Inflexões ao desapego!

Acordei em meio às minhas reflexões, colocando na balança os erros que tenho cometido. Penei ao constatar que em meu grande berço de emoções repousa uma infinidade de ilusões perdidas que transbordam a razão e reforçam em traços imperceptíveis uma vida descabida. Retalhos e mais retalhos de sentimentos esfacelados e fracionados em pequenos momentos vãos. Gavetas e mais gavetas de mágoas, ressentimentos e raiva, acumuladas, rebento de um redemoinho de complexidades submersas. Armários e mais armários de experiências e relações despropositadas, sustentáculos dos interesses míopes de gente inescrupulosa e vil e que um dia acatei. Um universo íntimo e desprezível de relações infrutuosas e fúteis, frívolas e inconstantes, ancoradas no anseio de me sentir vivo em um presente duvidoso.

Por muito tempo tenho guardado tudo, como se a minha vida fosse um depósito de frustrações e uma fortaleza, inerte, indolente ao pulsar da própria vida. Tenho guardado sim, a sete chaves, em retalhos, em gavetas e em armários. Comigo mesmo carrego de chofre esse peso, cuido para que ele não se dissipe e não me deixe vazio, enquanto acumulo novas experiências imponderáveis. Minhas foram as escolhas, e custo a acreditar que um dia poderei remediá-las ou dar-lhes novo sentido, já que são frutos de intensas relações minhas comigo mesmo, em uma perspectiva singular; obra de um contrato meu e único. Não quero desgarrar-me de mim mesmo.

Insurgirei sobre qualquer tentativa minha de romper os elos que me prendem a esse passado excessivo e rigoroso; embaterei qualquer débil pensamento libertário, que me remeta a questionar-me sobre o meu próprio destino; repugnarei qualquer movimento do meu corpo que me lance ao estéril universo distante do meu querer; corromperei o cosmos se forçoso for, e celerado serei para resguardar tudo aquilo que me pertence.

Quero viver no limiar de mim mesmo e fartar-me das minhas escolhas. Quero desapegar-me ao meu tempo, por mais que os juízos inundem o meu pequeno canto de melancolia e inquietação. No anseio de querer libertar minha alma, posso aniquilá-la.

7 comentários:

Lia disse...

É... não é para mim... mas caiu-me como uma luva desde a primeira palavra lida...

Boa semana para ti!

Abraço,Lilian

Armando disse...

Oi Lilian,

O crescimento das pessoas está diretamente associado à maneira como elas encaram a sua realidade e os seus sonhos!

Abraço!

Rubão disse...

Grande Armando
Essa ansia insana por desapego e relações vazias pode levar qualquer um ao limiar da loucura.Essa maldita idéia de viver a vida somente com relações rasas e frívolas vai levar a todos a uma futilidade desmedida.E quando for constatado que a única coisa que aconteceu foi uma tremenda perda de tempo,desperdício de energia e dedicação talvez não reste mais tempo para fazer algo realmente valioso.E será realmente uma pena.

Armando disse...

Olá Rubens,

Sobre esse seu comentário penso que o ponto de partida é estarmos bem conosco, para então podermos influenciar e radiar coisas boas. Lembre-se, somos o cosmos!

fORTE ABRAÇO!

Juliana Saito disse...

Armando, o grande valor de tudo que conquistamos ao longo de nossa existência está na intensidade que ansiamos viver cada escolha nossa, e claro, sempre pagamos um preço por isso...
Para mim, alegria, melancolia, amargura, conquista, entre outros sentimentos que presenciamos a cada acontecimento que diz respeito único e exclusivamente a cada um de nós, faz parte desse cosmos que você mencionou no texto. É imensurável e instável, como cada ser humano que tenta viver em sua plenitude, é... Excelente reflexão. Bjs, Ju Saito

Unknown disse...

As relações enquanto atuais nos trazem uma plenitude de sentimentos felizes e compensadores. Tudo é certo e a nossa visão de um futuro duradouro é que nos faz sentir como se estivéssemos enfim, certos, realizados e completos. Quando o fim deste relacionamento acontece, só vemos o ruim, pois nosso coração está muito marcado por outros disabores que se junta ao último e nos dá uma sensação de fracasso, de engano, de cegueira.Essa escuridão nos transforma em zumbi perambulando sem sentido. Talvez por eu não ser mais uma adolescente, me sinto mais segura em dizer que tudo passa, e que sempre depois de toda essa escuridão eu começo a ver que existe um brilho que me chama de novo e me faz acreditar novamente que será o sol da minha vida. Nunca foi simples ou fácil, mas foi muito amadurecedor.
Beijo

Armando disse...

Olá Sandra, bom se fôssemos adolescentes com a cabeça e a maturidade que temos hoje, mas infelizmente e felizmente, não é assim. Penso que a construção de uma vida feliz passa por tudo isso: pela experiência, pelas paixões, pelos acertos e desacertos. O importante é sentirmos o pulsar, pois é isso que nos faz ter a certeza de que a vida vale à pena!

Um grande beijo!