
Ando indignado e em silêncio, inconformado e em silêncio, violentado e em silêncio. Assim, à margem do destino tenho ignorado, ou aceitado, o que acontece ao meu redor. Levemente critico. Falo em intensidade baixa, replico pouco. Guardo comigo muitas das mágoas e sofro, até que o silêncio as dissipe e, conformado, me faça esquecê-las.
Assim como eu, a maioria das pessoas se comporta. Fecham os olhos diante dos acontecimentos e já absorvem com naturalidade as barbáries do nosso país e do mundo. Estimulam o preconceito, ao não recriminá-lo, incandescem a violência, ao ignorá-la, fortalecem a impunidade, ao silenciarem.
O que vemos hoje, não é somente uma crise política, econômica, religiosa, ou ainda da família, mas sim uma crise moral, onde os valores foram esfacelados e os reflexos permeiam por toda a sociedade. O que dizer de um Congresso podre, da hipocrisia da desigualdade, de uma igreja estúpida ou do fracasso do lar?
Somos frutos das nossas ações, essa é a natureza. Temos nos omitido absurdamente, deixando nas mãos de poucos o que é de todos. Somente nos lamentado. Perdemos gradativamente o direito à dignidade e à cidadania. Morremos e matamos, silenciosos. Somos vítimas e cúmplices. Nos defendemos e atiramos. Somos tão culpados quanto os outros.
“Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, , rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.”
(Maiakovski)
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