quinta-feira, 11 de março de 2010

Recortes pitorescos da vida...


Na atribulada vida, a tênue lembrança dos bons e carinhosos momentos ao lado daquele, que havia sido seu grande amor. Ela se fora, assim como o pôr-do-sol, no intenso selar da noite que se fez vazia. Na ausência de luz, o negro dissimular dos sentimentos.

Ainda era cedo quando ela decidiu-se. Cedo para qualquer coisa, principalmente para o fim. Quando decidiu sair, colocou em sua mala de partida, precocemente, todos os penduricalhos que havia conquistado, sem reservas: amizades em construção, relações aparentes e cartuns apaixonados; ressentimentos e dúvidas; escolhas incertas. Na coragem, a covardia.

Aprendera em sua infância, lastros de família, que assim deveria ser: incólume, decidida. Rasgar a vida sempre que algo incomum lhe aparecesse. Extirpar do peito qualquer ameça. Apaixonar-se?... coisa de filme...; entregar-se?... presságio da dor; amar?... piegas! No alto da sua auto-suficiência, fechar as portas, e seguir..., não olhar para trás, jamais...

Nunca lhe faltaram amores, rodeios e galanteios. Sempre fora alçada com os mais altos elogios, justamente pelo seu carisma e expansividade. No íntimo, uma dor imensa, um vazio voraz, lâmina fria da sofreguidão. Fechara-se para as relações e para as pessoas, fechara-se para a vida. Seu aparente silêncio , e a pureza do seu olhar, escondiam um turbilhão de insatisfações, um contente descontente.

Quanto a amar, ou ao amor, desnecessário; secundo, amorfo. Conservar a si, lhe bastava, mesmo diante da dor. As lágrimas eram amparadas, assim como a solidão. Mergulhada na decepção, perdia-se nas ilusões e dissimulava..., enganando a si, e aos outros... Martírio incomum, fosso de decepções e ressentimentos, na impávida imagem feliz. Mais um recorte pitoresco da vida que segue, sem sentido...

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