quarta-feira, 24 de março de 2010

Confissões de um adolescente quarentão...


Ainda ontem estava pensando que somos frutos do meio, e que a fruta nunca cai longe do pé. Também, que, indisciplinados, estamos superaquecendo o planeta e que certamente extinguiremos os ursos polares. Ainda, que estamos criando uma geração de desajustados, que não conseguem se relacionar, fora da virtualidade, e que, como bons desajustados, jamais conseguirão interagir com a sociedade, e, portanto, nunca contribuirão para a construção de um mundo melhor.

Estava refletindo sobre tudo que aprendi e que não utilizei: que decorei a tabela periódica para poder passar de ano e que nunca me perdoei por ter me abaixado em uma aula de biologia, na tentativa de ver a calcinha da professora Angélica, que naquele dia usava saia. Que quando minha avó me mandou rezar umas 50 ave-marias, só porque aceitei Jesus em uma igreja que não era católica, juntamente com meu irmão, ou quando dava as uvas, que repousavam nas garrafas de pinga onde ela fazia os seus licores, para as suas galinhas de criação, cumpri os castigos, mesmo sem ter cumprido objetivamente... Enforquei várias galinhas dela no parreiral, mas não estava sozinho... Meu avô me deu bengaladas injustamente, só porque puxei a barba do papai noel e descobri quem era ele, e odiava ter que cantar encima do caixão de lenha, se quisesse ganhar presentes...

Quando morava no Rio de Janeiro, ainda bem criança, era agarrado na dispensa de casa, e no escuro. por uma filha de um amigo do meu pai, também militar, mas apesar de envergonhado, não revelava o abuso e acho que até gostava... Pulava o muro de casa e ludibriava o cachorro do vizinho, só para beijar a filha dele, a Ritinha..., ahhh Ritinha... Será que é por isso que hoje sou assim? Nadar na água de chuva e ser resgatado pelos militares e entrar nas tubulações dos prédios lá em Marechal Hermes, foram aventuras arriscadas, mas nem tão secretas assim..., fomos denunciados!

Com meu primo, assustava as meninas, amigas e primas, em teatrinhos onde ele saltava de baixo das cobertas, transfigurado por mercúrio, ou sangue do diabo, e esparadrapos, e eu, junto com o Ná, ligava o alarme do carro dele, cuja chave era externa, sempre que ele ia namorar, só para acordar a vizinhança... Com meu tio, tomava caipiras de maracujá, nos botecos, nas pedras do Morro do Cristo, lá em Guaratuba e ele botava uma graninha em meu bolso, por qualquer agrado ou companhia... Meu outro tio passou reto em uma curva, com sua Belina, quando fomos a uma pescaria... Normal, pois a curva do monge, lá na Lapa, fora apelidada como curva do César..., não por acaso...

Minha mãe mandou despejar uma carga na areia na porta da cozinha de casa, por estarmos entediados, e ao meu pai fazia continência, ao esperá-lo chegar do quartel, pois então, estava no Colégio Militar e empolgado com a possibilidade de dominar o mundo... Dei uns safanões no meu irmão menor quando, em um passeio apertado no carro, ele comprimiu, involuntariamente, meu furúnculo na perna... E caí em um riacho quando atravessava uma ponte de madeira, em um passeio com “meu filho Junior” e turma..., tive que seguir de cueca... Participar da matança do bode, que ganhamos do seu Fernando, para um churrasco da turma, não foi legal...

Não posso deixar de confessar que roubava doces do armazém da D. Helena, e que adorava o velho Guirino, principalmente o seu pomar. Roubava picolé na saída do colégio também, em uma ação articulada da “gangue”da saída da escola... Joguei uma laranja podre em um missionário que seguia para a igreja e ele nem percebeu, pois somente raspou a sua camisa de cetim e coloquei ratos no jipe do Monsenhor, hoje quase santificado e detentor de tantos milagres... Matei uma pomba branca com um tiro de espingarda de pressão e nunca me perdoei, mas ri quando soprei uma zarabatana com espinho na ponta e que perfurou o braço da Ester. Quando Neuza me induziu a enfiar meus dedos na tomada e levei um puta choque, odiei...

Para finalizar as confissões, como não podia entrar no cinema, jogava bombinhas cabeça-de-nego, pelas calhas e apavorava os casais românticos, certamente interrompendo as suas intenções, até ser pego pelo Oscar da farmácia (também não estava só...). Me vesti de policial com a farda do Coronel Janari e participei de uma blitz. Gostava quando o filho do Burda era jogado do trampolim lá na piscina... Pelas minhas encrencas, sempre era um dos primeiros a começar brigas nos bailes de carnaval no Congresso, e o Teteco era o meu anticristo, na época. Tocar campainhas e correr, esvaziar pneus, espionar as meninas em diversas situações, roubar produtos do mercado do Espedito, junto com o filho dele, Maurício, para alimentar nossas pescarias, provocar as freiras..., entre outras tripulias, eram os nossos pecados da época...

Essas passagens pitorescas são de algumas aventuras da infância, e de um lado da família, pois do outro lado, contarei em outra postagem. Histórias como quando Fernando Alberto disse para minha tia Alaíde que ela ia à praia para espantar tubarões; nossas aventuras com carrinhos de autorama e playmobil; quando escondíamos Paulinha no armário, ou quando quebrei a ampulheta do meu Tio Antônio, além das descobertas com Nelsinho, sobre as revistas suecas...

Acho que me sinto mais aliviado, e quem sabe, em outra oportunidade, contarei os pecados da adolescência...

(Uma pequena lembrança para os meus pais, parentes, irmãos, primos e amigos, de uma doce infância colorida...)

2 comentários:

Ana Paula Dacota disse...

Nooooooooooossaaaa!Que menino travesso vc foi!!!! Que bacana, quantas histórias pra contar, não?! Abraços!

Paulo Moacir disse...

Muito bom! Ah, a propósito: você tinha bastante cabelo. rs.rs.abs