quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A morte é a vida!

Um breve olhar para o retrato em sua mesa de cabeceira, e o resgate de uma vida repleta de momentos felizes. Desde que ela se fora, os dias não eram iguais, e a intensa saudade, mística melancolia, nunca mais desabitou aquele imenso coração. A morte traz um significado profundo para a vida das pessoas, um questionamento íntimo sobre as escolhas passadas, sobre as realizações, as alegrias e frustrações. Traz um impulso para o futuro, que se projeta e se deseja para si. Retroalimenta e faz renascer.

Teve que aceitar a perda, e conviver consigo, pois apesar dos nebulosos dias, do incessante sofrimento, ainda tinha muito a fazer, não somente para si mesmo, mas também pelos outros. Outros, que ainda esperavam dele algum tipo de reação, que retomasse o sentido dos seus sonhos e o rumo das suas inquietudes, que retornasse ao seu próprio eixo e voltasse a inspirar tantas pessoas a expandirem as suas emoções. Um egoísmo se faz necessário diante da morte. Pensar em si e esquecer por um momento os outros. Fortalecer-se, mesmo que os outros se enfraqueçam pela sua ausência. Resgatar-se, mesmo que após, tenha que tecer a colcha da vida com retalhos. Inundar-se de sentimentos, para depois acontecer, diante das escolhas.

Por mais que a ferida ainda sangrasse, e a dor intensa o sufocasse, lhe remetendo ao mais hostil desagravo, decidiu seguir em frente. Enxugou as lágrimas e desapegou-se gradativamente das lembranças. Esforçou-se em apagar os sonhos, que insistiam em não deixar esquecê-la. Tentou confortar-se e recolheu-se. Inspirou-se nas suas próprias capacidades e nas letras reencontrou-se para a vida. Seguiu em frente. Não existe desamor sem dor, e a dor do desamor, assim como o próprio amor, caminha no fio da navalha, no limiar das emoções. Sangrar é a conseqüência de doar-se, de ser intenso. E isso, mesmo que inconseqüentemente, ele sempre foi.

A morte é a cessação da vida, mas também a ausência, uma dor violenta, a imobilidade ou a ruína. Uma privação intensa, uma perda, de alguém, de algo, ou de si mesmo. Em sua antítese, uma transição e um desabrochar. Um reencontro com a própria vida.

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