Não ouso lamber as feridas, tampouco remediar a doentia dor. Enquanto recluso, mergulho no julgamento dos meus atos, a anestesiar a minha própria desgraça. No lodo da desilusão há pouca luz, pouco ar, pouca esperança. Há o desafeto e a mágoa, os ressentimentos e a hipocrisia, há o desapego. Nada que se precise ver ou sentir, nada que se possa consolar, nada que se possa confortar, não há nada...
Ignoro o lamento e retiro do meu corpo as chagas e da mente a culpa. Deixo aos corvos as lástimas do acaso, para que se deliciem com a podridão dos homens. A vergonha é da repugnante sociedade, que somos nós, e que se cala enquanto as hienas rasgam as carniças da moralidade. É a vergonha que ocultamos, a nossa vergonha, que nos engolfa ao negro dos nossos absurdos e nos torna ainda piores.
Viva, ou morra com isso!
Nenhum comentário:
Postar um comentário