sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Amor e suas Razões


Sempre me transbordo na imensidão da tua luz, e míope de sentimentos, deixo escorrer pelas minhas mãos suadas o sangue que derrama meu coração doente. Ainda que cicatrize, será doente, pois não pulsa e não produz novidades, nada o encanta. Lembro-me de ti, mas das lembranças não se constrói o novo, somente do esquecimento. Mas como esquecer-te se teu cheiro me habita? Ausente, estás sempre presente em meus pensamentos, e trêmulo, me deixo invadir a todo segundo ao gozo, a remeter-me a tua geografia.

Derramo de mim toda a docilidade, ao depositar na escuridão das noites vazias a tua ausência. Fostes algo bom e ruim, cujo bom pouco me desperta, não me estimula e pouco gracioso é, é falso brilhante! Já o teu ruim esse me move, me surpreende e me instiga.  É ele que me impulsiona a querer-te, a adorar-te, por pior que o seja. Sofrer a gosto, não; maltratar-me, não; odiar-me, também não. É um outro olhar, um querer bem diferente de capricho, um querer muito, um acontecimento, um amor apaixonado.

Quem ama ou amou entende, sabe muito bem que quando as coisas acontecem em nossas vidas, não suportá-las seria loucura. Também sabe bem quem acontece em nossas vidas, e desprezá-las, também seria loucura. Fernando Pessoa escreveu: “Quando te vi amei-te já muito antes. Tornei a encontrar-te quando te achei.” É quando gente toca a gente, a nossa alma, e antes mesmo de tudo, já sabemos o que irá acontecer, pois já estava escrito.

Todos gostamos de amor, e com ele carregamos a dor. Quanto  mais afetuoso e acolhedor o amor, melhor; já a dor, se menos doída, também. Somos repetições de tudo aquilo que vemos, ouvimos, percebemos e sentimos. Somos reações e produtos de nós mesmos, de imagens, de coisas boas e ruins. Somos predestinados, e o nosso sofrimento eclode sempre que duvidamos, ou não aceitamos aquilo que nos é destino.

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