terça-feira, 21 de abril de 2009

Receita de Mulher!

Indiscutível o talento e a obra de Vinicius de Moraes, esse libriano, carioca da Gávea, que nasceu em 1913 e encantou o mundo com sua genialidade. Foi diplomata, boêmio, nosso poetinha! Uma estrela iluminada que aqueceu corações ao irradiar o amor e que estimulou e continua a estimular as mais loucas paixões com seus sonetos e versos. Lançou ao mundo um lirismo cativante, do tamanho do peito de todos os que puderam conhecer e admirar a sua obra.

Casou-se por nove vezes e foi feliz em toda a sua vida, pois à vida foi alçado e para ela existiu. Admirador das mulheres, do Rio, do mar, do amor....

Para aqueles que não tiveram a oportunidade de conhecer, trago este poema - "Receita de Mulher", onde ele ousa, inflama e polemiza, com ousadia, entre o céu e o inferno.


Viva Vinícius...

"As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar.
Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável."

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Perdas e Ganhos...

Estive refletindo sobre como todas as passagens e momentos de nossas vidas podem ser traduzidos em chegadas e partidas. Quando da nossa concepção chegamos ao mundo, com uma missão, e partimos quando a nossa missão está concluída. Começamos na escola e nos formamos, para recomeçarmos novamente e finalizarmos algum estudo. Iniciamos uma comemoração para chegarmos ao fim da festa. Com um beijo, nos apaixonamos e começamos um romance, que em algum momento termina. Começamos uma refeição, e satisfeitos encerramos. Uma decoração, que se esgota. Um cuidado que se esvai. Uma nova história que chega ao fim. Uma viagem que se encerra com o retorno. Iniciamos e finalizamos momentos durante toda a nossa vida...

A música “Encontros e Despedidas”, de Milton Nascimento e Fernando Brandt, nos dá uma idéia dessa viagem em metáforas, que muito bem podem ser entendidas no trecho “e é assim, chegar e partir..., são só dois lados da mesma viagem”. Uma bela música, uma bela poesia, a crua realidade da vida.

Quando nos despimos das inconformidades e olhamos a vida com naturalidade, percebemos que esse é o curso natural. Porém, quando depositamos expectativas e sentimentos excessivos, geramos em nós mesmos frustrações e sofrimentos muitas vezes insuportáveis. Perdermos um ente querido, que ao olhar do curso natural finalizara sua missão, mas mal conseguimos conviver sem ele. Rompemos um romance, que durou o quanto necessário, mas uma mágoa nos inunda por perdermos o domínio sobre o outro. Deixamos que as boas lembranças e as lágrimas de saudade e de bons momentos sejam transformadas em tormentas, e que o curso de nossas vidas seja alterado. Matamos parte de nós e tentamos conviver com a melancolia. Somos pouco, ou nada resilientes.

Acho que não entendo muito de nada, mas um pouco de muitas coisas, e tenho aprendido que o fim é sempre um impulso para um novo começo e quando você chega ao fundo do poço, percebe que não é o fundo do poço. Quando nos libertamos dos apegos e inundamos nossos corações de amor, temos novas chances de reescrevermos as nossas próprias histórias e de continuarmos felizes, acumulando em nossa bagagem algumas perdas e muitos ganhos!

“Penso que seguir a vida seja simplesmente conhecer a marcha, ir tocando em frente...”

terça-feira, 14 de abril de 2009

Rio 40 Graus!

Voltando à rotina, nada melhor do que sair da rotina! Viajar estimula instintos adormecidos e hábitos esquecidos. Da minha parte me surpreendeu o fato de eu caminhar no calçadão de Copacabana todos os dias, motivado, além de ter ido à praia, coisa que não gosto muito, mesmo que esteja na praia. Penso que nos sentimos libertos e mais capazes de enfrentar o mundo.

Também enfrentei fila, coisa que não faço nunca, pela minha falta de paciência. Fui ao “Lapa 40°”, um bar na Lapa, assistir a um show de Diogo Nogueira, filho do grande sambista João Nogueira. Quase uma hora na fila, garoando, e para minha surpresa não consegui entrar. Ou melhor, não conseguimos entrar (todos que estavam, na fila depois das 10 horas da noite). Antes, fui jantar com Lisboa e uma amiga dele, Vanessa, lá no Garota de Ipanema, em Ipanema, que não possui mais charme algum além da localização e do nome. Somente um banner com o Soneto da Fidelidade, de Vinícius de Morais, que é lindo! Me decepcionei com o bar, não com os amigos. Por isso cheguei tarde ao show.

A conversa na fila estava boa e a surpresa foi quando uma pessoa, da fila, fez um convite e deu a sugestão para quem quisesse ir para outro bar. Mais de 15 pessoas que mal se conheciam seguiram, inclusive eu. O bar se chama Heavy Rock, um reduto de rock´n rol no meio das muitas casas de samba. Uma Harley na entrada, um telão com show dos Roling Stones e um gato preto curtindo o movimento, o que aos olhos de Ozzy Osbourne seria uma benção. A minha surpresa nas conversas foi o fato de duas amigas comentarem uma característica comum: haviam sido casadas com uma mesma pessoa, em épocas diferentes, se conheceram e consolidaram uma grande amizade. Lógico que não me contive e tive que perguntar se ambas falavam mal do “falecido”. Afirmaram que "sim, claro que sim", em meio a boas risadas. Os paradigmas vão sendo quebrados e temos que entender esses movimentos sociais para uma vida harmoniosa e feliz.

Ainda tive a oportunidade de conhecer um bar chamado Esch Café. Um lugar maravilhoso no Leblon, indicado por meu irmão, onde se toca muito jazz. Cheguei na noite errada e o som era MPB e bossa nova, mas com uma qualidade imensa. O ponto também agrega apreciadores de charutos e é inevitável chegar em casa impregnado. Vale à pena mesmo! Lembrei-me da minha experiência com charutos no Hermes, quando depois de autorizado pelo Lulo, dono do bar, vi meu charuto ser apagado por uma megera. Queria matá-la, mas me contive. Estava no bar no Leblon na mesa ao lado a atriz Angelina Muniz, muito bonita, moderna e cortês.

Volto a falar da minha característica de viajar sozinho, nem sempre por opção, e observar que nessas situações estendemos a nossa relação de confiança a garçons, motoristas de táxi, porteiros e outras pessoas estranhas. Um exercício de convivência para quem quer construir e viver em mundo melhor, na diversidade e respeito.

Namastê!

sábado, 11 de abril de 2009

Uma Quinta Iluminada!

Nos últimos tempos, também em função do meu trabalho, adquiri um hábito solitário de viajar. Conhecer novos lugares, pessoas, costumes, bares e ares, sozinho. Confesso que às vezes sinto falta de uma companhia, mas essa minha solidão me obriga a interagir com pessoas que não conheço, já que gosto muito de uma boa conversa, e a refletir muito sobre o meu dia a dia, desejos e sonhos. Muitas vezes chego com uma carga imensa de reflexões e preocupações, as quais vão se dissipando no decorrer dos dias. Volto muito mais leve e com saudades das pessoas próximas. A minha solidão é minha!

Hoje estou no Rio de Janeiro e já tenho histórias interessantes, como a minha chegada em plena lua cheia. Penso que a lua me energiza demais, mais do que o sol, talvez por isso eu não durma e goste de ficar na rua o maior tempo possível, à noite. A lua estava linda e o meu caminhar no calçadão de Copacabana estava iluminado. Uma verdadeira bênção nestes dias de Páscoa!

Por recomendação do amigo Lara, fui ao Cervantes, um bar e restaurante muito antigo e tradicional, localizado entre o Leme e Copacabana. Sempre que recebo alguma indicação de amigos faço o possível para conferir, por dois simples motivos: normalmente deve ser uma boa indicação e o amigo para de ficar indicando aquele lugar. Gostei muito e tive o privilégio de sentar ao lado de João Donato e Paulo Moura, com os quais troquei algumas palavras, pretensiosamente. Eles são uns gênios da música popular e da bossa nova. Inicialmente fui ao bar, mas estava lotado e não consegui chegar ao balcão (tinha até um labrador preto, lindo, nas dependências). Contornei e fui ao restaurante saborear um sanduíche de peru com queijo e abacaxi. Tentei furtar um cardápio, mas fui pego no ato...rs.... Valeu a indicação Larinha...

Em seguida fui à Lapa, no Carioca da Gema – bar que eu gostei muito da última vez em que aqui estive. O som estava maravilhoso e a acolhida a um curitibano sem nenhum samba no pé e conversador foi ótima. Fui apresentado à banda e o cantor, Toninho das Geraes, fez questão de ficar comigo em conversas por um longo tempo. Ouve uma grande empatia e trocamos telefones. Ele compõe grande parte das músicas cantadas por Zeca Pagodinho e Beth Carvalho e trouxe consigo para me apresentar Ataulfo Alves Junior, filho do grande Ataulfo, que este ano terá diversas homenagens pelo seu centenário. Foi muito bom!

Outro que entrou na roda de conversa foi o Furacão, Jairzinho, com o qual conversei também por um bom tempo, mas não nos entendemos. Eu acho que ele estava passado e ele certamente deve achar que quem estava era eu... Tocou tamborim com a banda e foi reverenciado. Não enfrentava a fila do banheiro, pois todos davam preferência a ele. Ser campeão tem suas vantagens.

Encontrei aqui na Santa Clara, próximo ao hotel, Dori Caymmi, de bermuda e chinelo e tão esculhambado quanto eu. Engraçado como a gente venera tanto os nossos ídolos a ponto de esquecermos que eles são pessoas normais que simplesmente levaram adiante os seus sonhos e os seus dons.

Isso tudo ocorreu na quinta-feira e já tenho a sexta para contar (foi agitada), além de hoje, que irei a um clube de jazz, daqueles com muita fumaça e som de primeira.

Estes depoimentos são simplesmente para ilustrar o quanto podemos transformar as nossas vidas e conviver com as diversidades. Lembrar que da janela para o fora o mundo é muito maior do que para dentro e que as oportunidades nunca devem deixar de ser aproveitadas.

Apesar de estar longe, me sinto muito feliz e quero compartilhar esta felicidade com todos.

Namastê!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Renascimento da Vida!

Aos olhos do Cristianismo, o significado da Páscoa está ligado à ressurreição de Cristo, que crucificado e morto ressuscitou após o terceiro dia, período em que o sol se recusou a brilhar e a lua a iluminar a terra. O renascimento da vida!

Hoje, em nossos tempos, com um olhar reflexivo, o acontecimento nos remete a ressuscitar as virtudes e inundar os nossos corações das mais puras e belas intenções. Resgatar não só a fé, mas os princípios que regem e conduzem uma vida harmoniosa e feliz, os bons sentimentos e o amor que desejamos para nós mesmos e para os outros. A solidariedade, a bondade, o compartilhar, o abraço...

Família reunida, amigos, comemoração. Agradecimentos, resgate, repensar. Íntimo Ser!

Que consigamos com nossas preces e com nossas próprias vontades, nos sensibilizarmos para a vida. Realinharmos as nossas atitudes, as nossas ações, irradiando amor, paz, carinho e fraternidade. Esse é o verdadeiro sentido da Páscoa!
Tenham todos uma boa Páscoa!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Putz, a vida é vida!

Se existe uma coisa que faço com a maior satisfação é refletir sobre o passado, como uma forma de entender os meus desvios e ajustá-los, seguindo sempre em frente. Não me prendo a fatos específicos, mas às situações e suas conseqüências, e nem sempre faço diferente. Muitas vezes cometo os mesmos erros, consciente. Fico esperando o reverberar. Existem ganhos e perdas, sempre. Escolho entre as opções e algumas vezes me arrependo. Cresço. Volto a cometê-los...

O passado funciona como um espelho retrovisor, para o qual eventualmente devemos olhar, mas sem perder o rumo. Para frente é que se anda! Ditado antigo, mas certeiro.

É comum as pessoas se fixarem no passado, na crença de que as vivências são cíclicas, ou seja, que sempre teremos o mesmo final para um mesmo começo. Balela! Perdoem-me os mais reticentes, mas manter-se em inércia por achar que o jogo já está definido é perder. É coisa de perdedor. Deve-se entrar para jogar e mudar o resultado e o rumo, se for capaz. Outra frase antiga: “ninguém lhe disse que era impossível, ele foi lá e fez”!

Fico imaginando o quanto as pessoas andam acorrentadas, presas aos seus próprios passados e também aos passados dos outros. Perdem a oportunidade de escrever as suas próprias histórias. Esquecem o livro em branco que receberam e vivem do plágio. Reduzem os seus sofrimentos, mas também as suas alegrias. Vivem do plágio e o plágio não traz aplausos. Todos precisam de aplausos. Precisam de reconhecimento.

É claro que persistir é muito diferente de insistir. Há que se saber a hora certa de parar. Tenho insistido em demasia em algumas situações, reconheço! Meus amigos que me perdoem, pois têm sofrido comigo. Enquanto o peso da dor for menor do que o sonho, persista, pois vale a pena. Quando for maior, é hora de mudar, de desligar os aparelhos!